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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Como surgiu Lágrima da Deusa - pt. 4

Na última postagem consegui achar e colocar a primeira versão do capítulo um. Então, voltando ao TGI, com esse texto em mãos, e já tendo o mostrado para a orientadora, já tinha algo a desenvolver. Mas na realidade esta parte ficaria para o segundo semestre daquele ano (2004). O primeiro semestre ficaria por conta de outra parte importante do trabalho final e que muitos torcem o nariz, ou batem o nariz contra a parede, ou simplesmente assoam o nariz de tanto chorar por ter de enfrentar isso: a PESQUISA.

Confesso que no começo me senti intimidado a pesquisar e escrever sobre o tema Animação. Teria que ler muito: desde sua origem, histórico, primórdios, influências, coisas que vieram antes, até mesmo de outros séculos (zootroscópio, praxinostroscópio, fenaquistoscópio e outros "cópios" por aí), chegando a parte de roteiro (li um livro excelente do Doc Comparato, por sinal - Da Criação ao Roteiro - ótimo pra quem quer saber mais como criar uma história para um audiovisual). Para começar, minha orientadora indicou e emprestou alguns livros. Como na época eu não trabalhava e, consequentemente, tinha o dia inteiro livre, me vi na obrigação de ler tudo o que conseguisse. E assim fiz, chegando ao ponto de a orientadora não ter mais nada para me indicar. Por isso o que me restou nesta fase do TGI era me enfiar na biblioteca da faculdade. Passava a tarde em busca de livros da área, lendo-os de cabo a rabo. Até levaria pra casa pra ler com calma, mas aqueles livros nem podiam deixar as dependências da biblioteca. Resumindo: copiava o que me interessava.

Sinceramente não achei nada demais fazer pesquisa. Muito pelo contrário, me diverti bastante sabendo mais sobre uma das áreas de meu interesse. Chegando a descobrir muitas coisas interessantes. Chegando ao final daquele semestre já tinha colocado tudo no papel (aqui lê-se documento de word) e entregue a monografia, que no caso foi para outra professora. Para o professor de projeto entreguei não só a pesquisa, mas o projeto todo em si, incluíndo o roteiro do piloto da animação e até o storyboard do mesmo.

Storyboard, aos leigos, é uma espécie de história em quadrinhos, com desenhos bem toscos mesmo, que demonstra os pontos-chave da animação, contendo indicações e anotações de tempo, diálogo se quiser, etc. Esta parte ajuda, e muito, a fazer a animação. Posso dizer que é um roteiro desenhado.

Por falar em roteiro (ter escrito a palavra "roteiro", na verdade - não sei por que temos a mania de escrever o que pensamos, mas não o que realmente estamos fazendo...) com a pesquisa encaminhada já o desenvolvi por completo, a tempo de incluí-lo na pesquisa no final daquele semestre. Funciona do seguinte modo (pelo menos do jeito que eu fiz na época): tem-se a idéia; a desenvolve num texto curto que demonstre os pontos importantes da história; sabendo-se o meio em que vai contar aquela história, define-se o tempo; então finalmente se faz o roteiro.

O nome deste ser fundamental já é auto-explicativo - Roteiro. Ele serve para ser um guia, contendo tudo importante referente ao produto final. No caso de ser um piloto de animação, meu roteiro teve especificações de cenário (aqui o texto seria mais "jornalístico" pra se ater ao concreto da coisa), diálogos, etc... Foi uma parte que gostei muito de fazer e que também ajudou a despertar meu lado escritor.

Com a pesquisa em mãos, e nas mãos dos professores, viria a parte final do TGI, que para muitos é mais que torcer nariz: é manter o nariz acordado madrugadas adentro, trabalhando, trabalhando, trabalhando e trabalhando... É a parte braçal e "brutal". Mas isso fica para a próxima.

J. C. Cartolano

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O texto para o episódio piloto de Lágrima da Deusa

Consegui encontrar em um CD esta raridade (pelo menos pra mim é). Este é o texto original, a primeiríssima versão do primeiro capítulo de Lágrima da Deusa. No caso, ainda era para ser um episodio de animação. Ainda criei uma lenda, que seria parte da abertura do programa. Sem muita encheção de linguíça (preste atenção na regra nova da língua portuguesa, a extinção do trema. Que o trema vá em paz! E que faça ainda tremer os nomes daqueles que ainda o possua e tremule a bandeira em temor da próxima mudança gramatical! - me empolguei e acabei enchendo muita linguiça, hahahaha!), aí vai:

“Quando uma era entra em escuridão e o mal surge mais uma vez ameaçando o que há de bom no mundo, uma lágrima cairá do céu. Esse brilho celestial traz em si toda a esperança, coragem e força que se precisa para superar os obstáculos encontrados na busca da paz. Todas as forças da natureza se unirão: a água, a terra, o ar, o fogo, a luz, a escuridão. Há quem diga que a Deusa criadora está chorando em compaixão por todas as criaturas atingidas por esse triste destino. Essa é a lenda da
Lágrima da Deusa.“.

A história se inicia ao final de um dia extremamente quente. O protagonista Lano, um garoto de 15 anos, estava trabalhando numa plantação. Ao final da tarde, ele resolve se refrescar num rio, que fica nas proximidades. Lano fica boiando no rio, e ouve algo se mexendo em um arbusto. Olhando para aquela direção, vê que não há nada lá. Então volta a olhar para o céu.
De repente, Lano sente algo em seu corpo. Uma serpente enorme enrolou-se ao redor dele, e começa a tentar afogá-lo. No desespero, vê algo brilhando no fundo do rio: uma espada! Após muita luta, ele a alcança e desfere um golpe mortal na criatura.
Ao sair d´água, ele examina e nota alguns aspectos peculiares na arma. Há um símbolo desenhado na lâmina, algo que ele nunca viu na vida. E no cabo, uma espécie de orifício em forma de lágrima. Lano deu conta que estava anoitecendo. Então correu em direção a sua casa, indagando sobre o que acabará de ocorrer: nunca vira um monstro daqueles por ali. O que estaria acontecendo? E essa espada? Como ela foi para no fundo daquele rio?
Chegando em casa, sua mãe, com preocupação, avisa que seu irmão não havia voltado até então:
-Lano, vá atrás de seu irmão. Ele nunca chega após anoitecer. Estou muito preocupada.
-Pode deixar mãe. Ele deve ter brincado demais com seu amigo, e não percebeu a hora passar. Fique tranqüila, que já estou indo.
Ele então sai em busca de seu irmão, com sua nova aquisição, através da mata escura. Após seguir alguns minutos mata adentro, ouve um pedido de socorro! Numa clareira estava seu irmão, cercado por três onças-pintadas. Mas havia algo estranho com os animais, seus olhos estavam totalmente azuis-escuros e com um brilho estranho.
-Dodô, vá pra casa e não saia de lá. Eu cuido delas - disse Lano ao dar uma cotovelada numa onça, e derrubando-na. Seu irmão não discute e desesperadamente foge.
Lano vence a dura batalha, mas os corpos dos animais desaparecem, sem deixar vestígios. Sumiram num piscar de olhos, deixando-o boquiaberto. Sem mais delonga, ele retornou para seu lar.
Ao abrir a porta, sua mãe estava a sua espera:
-Meu filho, vamos conversar. Seu irmão já foi se deitar. Ele está bem, fique calmo - ela estava sentada com um olhar vago, em direção à lareira.- Acho que você deve ir para a cidade de Tuna, falar com seu tio. Eu sei que é repentino, mas esse ataque não parece ter sido por acaso. Já preparei provisões para sua viagem. Vá deitar e parta cedo.
-Eu entendo sua preocupação, e também quero achar a resposta para isso. Mas eu não sei chegar em Tuna.
-Basta seguir para o leste, na estrada que sai da vila. São três dias de viagem e não tem nenhuma cidade ou vila pelo caminho. Vá depressa, pois sempre existem ladrões nessa região.
-Tudo bem, eu posso me cuidar. Mas eu acho o tio no porto da cidade, não é?
-Sim. Agora vá deitar-se. Boa noite meu filho e boa sorte - Lano abraçou a mãe, e sumiu sob a penumbra da porta do quarto. - Lano abraçou a mãe, e sumiu sob a penumbra da porta do quarto.
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Era manhã, e o sol surgia timidamente atrás das montanhas, quando Lano partiu para a cidade. Seu tio, por parte de pai, é o capitão da guarda que cuida do porto da cidade. É conhecido no reino do norte por ser um excelente guerreiro. Ele conhece muitas pessoas na região. Com certeza ele saberia de alguém que poderia ajudá-lo. Ao pensar no seu tio, conseqüentemente se lembra de seu pai. Ele mal o conheceu, pois ele deixou a família quando ele tinha cinco anos, para ajudar seu irmão contra a invasão pirata em Tuna. O pai desapareceu em combate.
Lano brandia a espada no ar, e a examinava novamente. Ele já tinha experiência com espadas, mas nunca se dedicou ao uso delas. Um silêncio repentino. O som de passos. Ao se virar, um vulto surge atrás dele. Lano aponta arma na direção, mas o vulto fala:
-Pare, Lano, sou eu - arfando, seu irmão Dodô colocou uma mão na perna e a outra em frente ao rosto, como se pudesse parar a lâmina da espada. – Eu... Eu... Vou com você.
-De jeito nenhum! Como a nossa mãe ficará sozinha? Quem cuidará dela?
Como...?
-Pode deixar, que minha família cuidará disso - Detrás do seu irmão, apareceu uma garota, com os cabelos negros como o céu noturno, e os olhos, uma estranha, mas bela diferença de cores: um azul e um verde. Era Maria, sua vizinha, uma garota teimosa que não aceitava ordens, e que cresceu junto com Lano. Sua família era uma das mais ricas da região.
Após muita discussão, Lano começou a andar, dizendo que não iria se responsabilizar por ninguém. Maria e Dodô se olharam, sorriram e foram atrás dele. Seria um longo caminho até a cidade. O dia quase amanhecera, quando os três pararam subitamente e olharam para cima: algo incrivelmente brilhante caia do céu. Era indescritível aos olhos deles. Foi como se o tempo parasse para somente o objeto luminoso cair suavemente, deixando um rastro em seu trajeto.
-Mas o que é isso?- disse Maria, embasbacada.
-Eu não tenho a menor idéia, mas é impressionante.- Dodô respondeu.
Lano não conseguia tirar os olhos do céu, quando sentiu algo molhando a mão que segurava a espada. Ela estava literalmente chorando. As lágrimas saiam do orifício, do cabo e caiam no chão. Após a última lágrima tocar o chão, a poça começou a brilhar e a se transformar em uma forma. A forma final era uma seta, que apontava para o nordeste.
-Ai, minha Deusa! O que esta acontecendo. Primeiro fui atacado no rio por uma serpente enorme, quando achei essa espada. Depois as onças que te cercaram, Dodô. Agora cai do céu uma coisa estranha, e a minha espada chora! E essas lágrimas formam uma seta que aponta justamente onde caiu essa coisa.
-Realmente é incrível! Vamos atrás dela! - Maria disse na hora, com sua voz autoritária.
-De jeito nenhum, nós temos que encontrar nosso tio o mais rápido possível. Ele saberá o que fazer. Não é, Lano? Lano?
-Acho que Maria tem razão. Quando essas lágrimas caíram, eu ouvi algo estranho em minha mente, algo me chamando, pedindo ajuda. Senti que algo importante está para acontecer, que tudo o que me ocorreu até agora está ligado a isso. Portanto eu vou atrás dessa luz, antes de ir até Tuna. Estou partindo agora e peço que vocês não venham, pois não sei o que vou encontrar pela frente. Adeus.
Lano ajeitou sua mochila e partiu para o nordeste, sem olhar pra trás. Dodô olhou triste para o chão:
-Acho que vou voltar pra casa. Ele não quer nossa companhia.
-Não seja bobo, é claro que ele quer nossa companhia. Ele apenas não quer que corramos perigo. Bom de qualquer jeito, eu vou atrás dele. Até mais, Dodô.
-Ahhh!! Acho que vou me arrepender algum dia. - Dodô disparou atrás de Maria - Esperem por mim!
Então os três partiram naquela manhã.


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Eu acho muito legal ver a evolução que a história passou, além, de minha própria escrita. Mais pra frente vou colocar a última versão do primeiro capítulo, já algumas vezes mais elaborado e melhor redigido.

Até!

J. C. Cartolano

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Como surgiu Lágrima da Deusa - pt. 3

Agora é hora do TGI. O trabalho que dá trabalho, muito trabalho. Com o tema definido e com a idéia a ser desenvolvida, precisaria de um orientador. O professor de projeto indicou uma professora de outra área (especificamente de Rádio e TV) para me orientar. Um outro amigo da ilha de edição da faculdade, que por sinal havia se formado no mesmo curso que eu e havia feito uma animação, também me indicou a ela. Então fui lá conversar com ela. Eu disse que tinha a idéia de fazer uma animação, então fomos conversando e ela aceitou ser minha orientadora. Fiquei de levar na semana seguinte um texto do que seria a história do primeiro capítulo da aventura, o episódio piloto.

Pra quem não conhece, o episódio-piloto tem como finalidade mostrar aos patrocinadores e a um público fechado como será aquele audiovisual. Sendo aceito (dependendo da resposta daqueles que a viram), a série, o programa, a animação, etc., será desenvolvida. O meu plano era fazer a abertura da série animada e da série em si em um programa de animação 3D, pois já fiz estágios na área e tinha algum conhecimento na ferramenta.

Então, desenvolvendo mais a idéia que já mostrei nas postagens anteriores, acabei com um texto de duas páginas. O texto em si englobava, de forma literária, o que acontecia no episódio piloto. Resumidamente: o jovem protagonista Lano (retirado do meu sobrenome Cartolano, este é um nome que utilizava e ainda utilizo em meus jogos de RPG), após uma jornada árdua de trabalho, resolve se refrescar nas águas de um rio próximo e lá é atacado por uma serpente (que depois veio a ser uma jibóia); ele acha a tal espada que possui o orifício em forma de lágrima e consegue se salvar do abraço mortal da serpente; ele salva o irmão de onças pintadas; então, após conversa com a mãe, ele resolve deixar sua vila, seguindo em direção à capital do reino, Tuna, para conversar com o tio sobre aqueles ataques de seres nunca vistos antes na região; durante o caminho, seu irmão Dodô (na verdade, um apelido de meu irmão) e uma amiga, Maria, o alcança; seguindo viagem, um estranho objeto brilhante, tal qual uma estrela cadente, segue ao norte; a espada em posse de Lano derrama lágrimas, que por sua vez formam uma seta brilhante apontando na direção do objeto, que é uma Lágrima da Deusa; Lano e seus companheiros resolvem seguir o objeto. Assim acaba o piloto.

Minha orientadora adorou a idéia e disse que eu escrevia bem. Fiquei surpreso. Nunca tinha gostado de escrever. Pelo menos eu não sabia disso até então. Na escola sempre passava raspando nas redações. Aquilo me lembrou de um fato engraçado (agora é, pelo menos): no terceiro colegial fiz uma redação em sala de aula com o auto-explicativo título “Folha em Branco”. Um ZERO. Um redondo zero anotado de caneta vermelha da impiedosa professora. Meu primeiro e único zero em minha história acadêmica. Não sei o que deu naquele dia, talvez fosse uma daquelas crises de adolescente, uma espécie de rebelde sem causa. Enfim, justiça seja feita. A professora não teve alternativa exceto me zerar. Mas eu acho que se fosse pela criatividade talvez eu merecesse um 10! Enfim, o que importa é que acabei me recuperando. Nunca imaginei que, sendo um aluno que passava de ano perto da tênue linha entre a nota azul a nota vermelha em redação, chegaria a ter prazer em escrever.

Fico devendo o texto original do episódio piloto, mas um dia prometo que vou disponibiliza-lo aqui.

Até a próxima!

J. C. Cartolano

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Como surgiu Lágrima da Deusa - pt. 2

Bem, continuando de onde parei (exatamente do mesmo modo como conto a história episódica no livro), tive um "insight". "Insight", em minhas próprias palavras, é uma espécie de idéia, como se fosse em forma de raio e atingisse sua mente, fazendo acender aquela lâmpada vista em desenhos animados quando o personagem teve uma inspiração. Foi bem parecido. Estava eu voltando da casa de meu pai (que não passa de uma mini-jornada daqui de Sampa até a Serra da Cantareira), enquanto apreciava a paisagem em volta. Imaginava uma história qualquer, quando me veio (insira aquele raio de idéia aqui) o nome Lágrima da Deusa. Precisava usar este nome para alguma coisa. Sabia que era um nome forte e marcante, sendo ao mesmo tempo sublime e belo. Modéstia a parte. Na época pensei em uma outra história, mas guardei no meu "HD" e lá deixei até anos mais tarde, onde seria utilizada para o que agora é minha saga de livros.

Amarrando agora aquela idéia do jovem achar a espada no fundo do rio, encontrando o irmão e o salvando com esta espada, etc... Juntei tudo e dei o nome Lágrima da Deusa. Agora só faltava definir o porquê deste nome, como seria utilizado na história e o do que ou para que seria exatamente este nome. Após muito pensar, e aproveitando minhas referências "RPGistas", cheguei à conclusão de que a Lágrima da Deusa na verdade seriam seis Lágrimas - artefatos mágicos (no caso, uma éspécie de pedra preciosa em forma de lágrima) contendo os elementos naturais principais daquele mundo. São eles: água, fogo, ar, terra, luz e escuridão. Defini também que a espada que o herói achava no fundo do rio seria o elo de ligação com as Lágrimas da Deusa. A arma teria um orifício em forma de lágrima para encaixar uma Lágrima da Deusa e assim a lâmina adquire o poder elemental específico a cada Lágrima. A arma seria utilizada, como em quase todas as histórias do gênero, para enfrentar o mal vindouro.

É engraçado como certas coisas acontecem e vão se conectando, formando um todo que nunca poderia imaginar que se formaria. As vezes parece a mão de forças invisíveis, tais como seriam as mãos de uma Deusa ajudando seu protegido. Assim começou a se concretizar a aventura. Foi a partir disso tudo que escrevi o primeiro esboço do que seria o piloto de animação para meu TGI, que mais tarde viria a se tornar o primeiro capítulo do livro.

Até o próximo post, onde contarei o trabalho que tive durante o TGI!

Abç!

J. C. Cartolano