Minha lista de blogs

sábado, 7 de maio de 2011

Metáfora da vida em inglês

Este é um texto curto inspirado na batalha que é a vida. Também é uma tentativa para ver como escrevo algo em inglês. And that´s it.

"I have fought the demons, exorcized the ghosts, slain the dragon and lit the shadows. Yet, somehow, my blade wasn't sharp enough, my cross wasn´t holy enough, my lance wasn´t piercing enough, my light wasn't bright enough. And still they're coming, everyday, in every breath I take, in every blink of my eyes. But I'll keep on fighting with all my might, to the edges of the world, 'till the end of time."

J.C.Cartolano

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Último texto do curso

Esta foi minha última criação para o curso que terminou no começo deste mês. Uma pena, mas tudo um dia acaba... Bom, foi bem divertido criar este texto, especialmente por forçar a utilizar a criatividade. Realmente gostei do resultado final e fiquei satisfeito. Aí está ele:

___________________________________________________________________

O Mago do Reino
J. C. Cartolano

Havia um mago em um reino. Fazia magia de água, terra e ar, exceto de fogo. Se chove muito para regar as plantações, é obra dele. Está nevando? Está aí uma de suas magias preferidas. Um vendaval varrendo as sujeiras da praça com certeza tinha seus dedos. Fogo na floresta? Pode-se ter certeza que ele é inocente. Por mais que tentasse não conseguia acender uma vela...
Naquele dia o fogo se alastrava pelo pasto e foram logo atrás dele. Quem sabe uma chuvinha não resolvesse.
“Onde está o nosso mago?” berrou o rei, sentado em seu trono.
“Não sei, Vossa Majestade... A equipe está procurando há horas...” respondeu o capitão da guarda, ajoelhado em frente ao rei.
“Já são 11 horas da manhã e nada dele! O alarme soou às 9h!”
“Eu sei, Vossa Majestade...” respondeu o capitão. “Ao menos o gado foi salvo. De todo modo, se o fogo continuar neste ritmo o pomar real virará cinzas.”
“Não!” berrou o rei”. “Meu pomar valioso! Um milhão de moedas de ouro jogado fora! Quantos soldados você designou para encontrar o mago?”
“Mais de 50 soldados estão procurando por toda a cidade. O restante tenta controlar o fogo.”
“Muito bem! Continue procurando o mago!” comandou o rei. Após o capitão da guarda deixar a sala do trono, o rei voltou-se ao conselheiro de pé ao seu lado. “Os Reinos Independentes sentirão no comércio caso o pomar queime... No pior cenário, o quanto representaria esta perda, conselheiro?”
“Cerca de 65% seriam perdidos.” disse o conselheiro após examinar o livro que segurava. “Seu reino estará em apuros caso isso aconteça, Vossa Majestade!”
“Maçãs, laranjas, bananas, peras, romãs, tudo desaparecerá...” lamentou o rei.
“Nossa esperança está com o mago. Ele é um dos que conhecem mais feitiços.”
“Sim, conselheiro. Nós humanos desprovidos de magia somos quase inúteis para apagar um incêndio.” refletiu o rei.
“Estive pensando” começou o conselheiro. “Se perdermos o pomar Vossa Majestade ou o mago será o culpado?”
“Hm, então precisa-se de um culpado...”
O rei sabendo aonde o conselheiro queria chegar, exclamou: “O mago, logicamente! Vamos, conselheiro, não conseguirei ficar aqui sentado enquanto não resolvermos esta questão!”
O rei com o conselheiro deixaram o salão do trono e o castelo para participar da busca ao mago.
Percorreram quase a cidade inteira perguntando aos moradores e aos soldados que encontravam no caminho. Chegaram finalmente ao local onde estava o incêndio. O pasto e o pomar eram enormes, quase o tamanho da cidade. As chamas avançavam ameaçadoramente apesar do trabalho incessante dos soldados e de alguns cidadãos. O capitão da guarda veio correndo assim que viu o rei.
“Vossa Majestade, encontramos o mago!”
“Onde ele está? Como o encontraram?” perguntou o rei, ansioso.
“O cavalariço e eu ouvimos um choro dentro de uma baia. Com certeza não era um cavalo, então verificamos.”
“Ótimo trabalho! Mas por que ele não está apagando o incêndio?” perguntou asperamente o rei.
“Bem, ele se recusa a sair da baia. Diz estar envergonhado, mas não diz o porquê”
“Como? Falarei com ele a sós!” berrou o rei, e deixou o capitão e o conselheiro para trás, acatando a ordem.
Ao chegar ao estábulo um e outro soldado conversavam entre si tentando descobrir o que levara o mago a se esconder e, principalmente, chorar. Percebendo a chegada do rei prestaram as devidas honras e saíram de seu caminho após o gesto brusco dele que indicava que sumissem dali.
Atrás de um cavalo malhado estava o mago, soluçando. Logo o rei se aproximou, perguntando na sua voz mais calma possível, apesar da urgência:
“Me diga, mago, o que aconteceu para estar assim desesperado? Caso não saiba há um incêndio destruindo o pasto e, se você não tomar alguma providência, o pomar real desaparecerá! Sabe o que isso significa?”
“Sim, eu sei, Vossa Majestade...” disse o mago após enxugar com a manga de sua veste as lágrimas.
“Então erga-se! Mexa-se e salve o pomar agora!” comandou o rei, perdendo a paciência.
“Não posso...”
“Como não pode? Você é o melhor mago que já pisou no reino! Nem um nem outro mago esteve à sua altura! Sei que sua única fraqueza é não conseguir conjurar um fogo. E não é disso que precisamos no momento...”
“Bem, é exatamente esse o problema...” choramingou o mago.
“Então qual é o problema?” pediu o rei, quase implorando.
“Fui eu... Fui eu quem incendiou o pasto...”
“O que você fez?” explodiu o rei. “Por que razão?”
“Na verdade eu tentei, pela ultima vez, conjurar o fogo. Precisava saber esta magia para me tornar um mestre. Mas perdi o controle e a chama acertou o gramado e...”
O rei o encarou, a princípio furioso. Logo em seguida começou a rir. O riso passou a uma gargalhada e o mago perguntou, inocentemente:
“Vossa Majestade, o que isso tem de engraçado? Não serei punido?”
“Você não percebe o que fez? Você conseguiu usar o fogo! Você conseguiu usar o fogo!” repetiu o rei incrédulo, não sem deixar de gargalhar.
“Eu consegui usar o fogo?” meditou o mago. “Eu consegui usar o fogo!”O mago então se juntou ao rei na alegria. A notícia se espalhou como o fogo e o povo passou a rir também enquanto o incêndio continuava a queimar impiedosamente.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Mais um texto do curso

Mais um texto do curso de Comunicação Escrita. A ideia reciclei de um roteiro que escreveria para um curta, mas acabei não fazendo.

Perseguindo Sonhos
J.C.Cartolano

Por detrás óculos escuros observava fixamente com olhos negros, escondidos do sol do meio dia. O ritmo de sua passada era intenso, mais rápido que os carros presos no trânsito daquela avenida movimentada. O coração batia freneticamente, prestes a explodir em milhares de pedaços. As gotículas de suor despencavam por seu rosto fino tão rapidamente quanto gotas em uma tempestade. De seus fones de ouvido ressoava um riff de guitarra enérgico, poderoso. O vocalista cantava letras de amor em uma língua estrangeira. A bateria e o baixo acompanhavam, não menos animadamente, completando a complexa textura da música.

A motivação de dar asas aos tênis Adidas puídos estava bem à sua frente: loira, alta, esbelta – do tipo que deixa qualquer homem em estado de transe, como se nada mais houvesse no mundo. E causara este efeito nele. Precisava alcançá-la a qualquer custo, mesmo que atravessasse a cidade inteira...

Ele a perseguia desde o ponto de ônibus situado bem em frente a seu cursinho, enquanto esperava sua condução. Nada no mundo tirava sua concentração durante suas viagens musicais; nada, exceto ela. A jovem passava bem diante de seus olhos, ao mesmo tempo em que chegava seu “Lapa-H”. Por uma fração de segundo estava erguendo o braço para dar sinal ao motorista, mas a garota esbarrou levemente em sua mão estendida. Foi o suficiente para prestar atenção nela, enfeitiçar-se e o foco de sua vida passar a mostrar que existia.

Ela atravessava a faixa de pedestres e já estava do outro lado da avenida quando ele iniciara sua perseguição. A princípio vagaroso, seus pés passaram a acelerar assim que o semáforo de pedestres passou a mudar de verde ao vermelho. A garota já virava à esquerda e estava atravessando outra rua. Seus passos apertaram. Chegava à mesma rua, porém o sinal abriu e os carros já disparavam na pressa de seus afazeres. Desespero, irritação e ansiedade o deixaram irrequieto mais pelo fato de ela adentrar um parque e sumir de sua vista do que a espera para dar seguimento à sua missão.

Assim que o vermelho apareceu para os carros, ele lançou-se novamente em disparada.

O parque destoava dos seus arredores - um santuário em meio ao concreto. As copas das árvores escondiam a luz solar, banhando o solo de sombras. A temperatura amena não o ajudou a sentir-se refrescado, muito menos calmo. Onde estava a garota? Àquela hora havia bastante gente passeando, sentada nos bancos de pedra ou de pé papeando. Mas nenhuma era a garota. E o pior, o caminho se bifurcava: um seguia para a direita, descendo com o terreno; o outro, à esquerda, já levava a outra saída para a avenida. Para onde ir? Pensava ele, cada vez mais incerto, perscrutando todas as possibilidades, pessoas, rostos... Ali!

Caminhando tranquilamente, a moça seguia rumo pelo coração do parque, passando por um a bica seca com cara de leão. E mais uma vez ele disparou. Agora, sem semáforos, carros, nem trânsito nenhum, estava com liberdade e completo desimpedimento para alcançá-la. Entretanto, havia um porém: o que diria àquela deusa? Como ele mesmo sabia, não era alguém espontâneo. Precisaria de uma inspiração divina, de algum sinal, de um espírito benigno que o incorporasse (ou mesmo de um maligno, com muita lábia)...

O pavor aumentava exponencialmente, assim como o suor do esforço de alguém acostumado a exercícios diários de internet. Corria em seu limite. Suor. Passos acelerados. Mais suor. Passos no limite. Garota cada vez mais próxima. Mais suor ainda. Dores musculares. Água! Precisava de água. Falta de ar. Suor encharcando camiseta. Passos desacelerando. Garota se distanciando... Sonho se esvaindo... Esperança acabando... Garota saindo do parque... Anel... Anel?!

Bem por onde a garota acabara de passar, havia um anel caído. Um dos poucos raios de sol que escaparam do abraço das copas das árvores iluminou o anel prateado e seu brilho trouxe os olhos dele ao objeto. Um sinal divino! exclamou ele, estupefato. Então foi tomado por uma inspiração divina, como bem queria. Sabia como agir, o que falar.

Inspirando longamente, preparou-se para mais um sprint – o derradeiro sprint. Tirou forças do fundo de seu ser, que nem sabia que existia. Escolheu uma música em seu I-Pod, a mais empolgante que tinha em seus arquivos. Partiu. Mas novamente a garota já estava fora de sua visão. O que ele havia feito para merecer aquela provação? Olhou o anel em sua mão e o apertou firmemente, buscando por mais forças que seu corpo talvez tivesse escondido em algum canto obscuro. Suor. Passos acelerados...

Quando finalmente deixou o parque, sentindo o contraste do calor e da luz ofuscante, ali estava ela na esquina, olhando para todos os lados como que à procura de algo ou alguém. E ele sabia o que era.

Começou a desacelerar o passo. Esfregava compulsivamente o rosto suado usando a manga de sua camiseta, como se fosse o suficiente para enxugá-lo e tirar a cor rubra que o tomava. Endireitou a mochila nas costas. Até desligou seu I-Pod e retirou os fones dos ouvidos. Inspirou e expirou. Inspirou e expirou. Inspirou e expirou. E foi de encontro a seu destino.

A garota continuava a procurar algo, quando ele se aproximou. Assim que encontrou os seus olhos, uma chama acendeu-se em seu peito.

- Sim? – ela perguntou, examinando-o de cima a baixo, com cara de desdém.

Inspirou e expirou novamente, estendeu sua mão.

- Este anel é seu? – perguntou, confiante e esperançoso.

Ela observou seriamente o anel prateado.

- Não. - respondeu simplesmente, numa voz séria. Virou o rosto e continuou a procurar o que quer fosse. Pareceu achar e atravessou a rua, deixando-o para trás.

O seu mundo caiu, suas esperanças ruíram, o fogo foi se esvaindo, sumindo, tudo escurecendo e...

E quando deu por si estava dando o sinal para pegar sua condução. O fone de ouvido estava em suas mãos. Colocou-os. Então apertou play em seu I-Pod e adentrou o ônibus, observando através da janela a garota andando pela calçada.

...fim...

Brasil Fantástico

Este texto escrevi para o curso de Comunicação Escrito que venho frequentando. Foi uma ótima oportunidade para puxar sardinha para nossa literatura fantástica. O melhor é que o professor achou muito bom. Legal, não? Isso significa que estou trilhando o caminho certo! Aí vai:


Brasil Fantástico

Nada de J. K. Rowling e seu mago adolescente Harry Potter. Nem Rick Riordan e o semi-deus Percy Jackson. Muito menos Stephenie Meyer e o triângulo amoroso humana-vampiro-lobisomem. Os nomes da vez na literatura fantástica são André Vianco e Eduardo Spohr. E eles são brasileiros. Os autores das séries famosas acima são estrangeiros. Isso significa que são melhores escritores, só porque vendem mais e porque são internacionais? Não necessariamente. Há quem não acredite que não existam escritores de literatura fantástica no Brasil. Mas eles estão aí, se proliferando e o gênero está crescendo muito. Infelizmente existe o preconceito, como em qualquer arte em evolução ou pouco desenvolvida em um país como o nosso. Os leitores precisam desbravar seus mundos, vivenciar suas histórias, conhecer e reconhecer o potencial de nossos escritores.

O gênero fantástico já existe há muitos anos, aparecendo em obras antigas como Alice no País das Maravilhas. Também é conhecido como ficção especulativa e engloba três gêneros principais: a fantasia, a ficção científica e o terror. Por sua vez, estes três se dividem em diversos outros subgêneros. Estes variam de acordo com o período, ambientação, se existem criaturas, magia e o tipo de tecnologia empregada. Podem existir na nossa própria realidade como histórias alternativas. Podem até mesmo, e isso é bastante comum, acontecer uma miscelânea de todos.
No Brasil, o gênero existe também há um bom tempo, escondido sob outros rótulos. Monteiro Lobato, por exemplo, talvez seja o maior escritor de literatura infanto-juvenil de nossa história. Já colocava muitos elementos fantásticos. Além do folclore nacional e mundial, um de seus personagens logo de cara é um ser fantástico: Emilia, uma boneca de pano que toma vida. Importantíssimo, mas isso é o passado. O que o presente nos trás vai além da história infantil.

André Vianco escreve sobre vampiros desde seu primeiro livro Os Sete (2000). Ambienta sua história em cidades brasileiras, especialmente São Paulo. Aí há uma aproximação do público, uma familiaridade que atrai leitores. Sua obra de mais de 10 livros já vendeu mais que 700.000 exemplares. Para um escritor nacional de um gênero em que as pessoas, no geral, compravam somente traduções de literatura estrangeira, está mais do que ótimo. O surgimento do fenômeno Crepúsculo com certeza elevou as vendas. Com isso a tendência de livros sobre vampiros cresce, assim como a procura por estes. Um fator que muito ajudou, e sempre ajuda, na divulgação.

Outro fator, este bem mais atual, é o uso da internet como forma de divulgação. Um autor que se lançou na carreira literária graças à internet é Eduardo Spohr e seus anjos. O livro A Batalha do Apocalipse, começou com uma tiragem independente de 100 exemplares, vendidos pelo site http://jovemnerd.ig.com.br/. Em cinco horas todos foram vendidos. O autor participa do nerdcast (um programa gravado diretamente na internet) e falou sobre a obra. Os ouvintes se interessaram e adquiriram. Devido à alta procura, o próprio autor desembolsou uma quantia para editar novos exemplares. E assim foi crescendo, e vendendo, até que chamou a atenção de uma grande editora, a Record. Agora ele figura na lista dos livros mais vendidos no Brasil. Uma vitória aos nerds e principalmente à literatura fantástica nacional.

Com o advento dos E-Books, apesar de toda a discussão de que se os livros impressos deixarão de existir, tem seu ponto favorável. O autor, que geralmente fica com 10% do valor de capa, poderá ficar com a maior fatia da venda. Ponto positivo. Há também os booktrailers, vídeos na internet usados para mostrar a obra. Mais um ponto.

E o preconceito, este ser terrível deve ser rechaçado. Primeiramente, as editoras, ou pelo menos a grande maioria delas. Estas partem do princípio de que é mais lucrável traduzir livros que são best-sellers. Há certa garantia de que haverá retorno financeiro. E ainda investem em marketing para divulgá-los, quando deveria ser o contrário: investir e vender autores de sua própria nação. Não depreciando as obras internacionais, porque se o livro é bom, com um bom enredo, não importa a nacionalidade. Por isso mesmo devemos voltar nossos olhos para cá: temos coisas boas para contar, então por que olhar pra fora?

Ainda sobre as editoras, elas temem utilizar o rótulo ficção científica, pois acreditam que denigra a imagem do livro. Acham que rotulá-los as pessoas não comprarão por se tratar de coisa infantil, ou leitura de baixo nível, ou até mesmo coisa de nerd. Balela.

O mesmo ocorre com a maioria dos leitores. Parece que o autor consagrado lá fora chama mais a atenção. “Fulano vendeu mais de um milhão de livros em tal país”. “Beltrano foi traduzido para dezenas de países”. E para ler nossos escritores nem precisamos de tradução. E as vendas? É relativo. Não é porque alguém vendeu milhares de cópias significa que ele é bom. Mais uma vez, pode ser uma questão de marketing, de como a obra foi divulgada.

A dúvida do leitor muitas vezes surge do fato de não saber que existem autores nacionais que escrevem sobre fantasia. Somente o público interessado é que sabe da existência. O grande público precisa ser avisado, urgentemente. A esperança existe já que há vários desbravadores e pessoas interessadas.

Portanto, devemos dar chance àqueles a quem podemos ajudar facilmente. É só olharmos para o lado e veremos que temos as ferramentas de contar uma boa história fantástica: folclore, cultura, até mesmo o cotidiano. Devemos saudar os autores em evidência e trazer ao sol os desconhecidos. Basta nos juntarmos a eles nessa viagem à imaginação, pois temos potencial, independentemente de onde nascemos e vivemos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Última versão do 1° Capítulo

Como o título diz, esta é a última versão que reli e modifiquei. Já ouvi que em vez de editar um texto pronto é melhor reescrevê-lo. Nunca tentei, ma pretendo fazê-lo logo. Sem mais delonga:

Capítulo 1
A Espada que Chora

Lano Argand estava novamente carpindo o solo fértil sob seus pés descalços. Era mais um dia quente de verão e o sol emanava seu calor sufocante. Havia pouquíssimas nuvens no céu, mas nada que atrapalhasse os calorosos raios de iluminarem o mundo. O dia estava próximo do fim, assim como a jornada de trabalho dos agricultores de Rio Pequeno, uma pequena cidade no interior do Reino de Tuna. A principal fonte de renda era a agricultura, com seus enormes campos de lavoura, sendo estes pertencentes à família mais rica da região.
Rio Pequeno era uma cidade um tanto pequena e pacata. Casas simples, uma igreja, uma padaria. Apenas uma grande fazenda, que era propriedade do bondoso e rico fazendeiro Nevell. Ele morava com a esposa e sua única filha.
Os agricultores estavam terminando seu trabalho naquele dia. Lano era um jovem comum de dezessete anos, um dos mais novos dali; comum no sentido de que muitos jovens largavam seus estudos com a finalidade de ajudar a família trabalhando, especialmente naquela pequena e simples cidade interiorana. Limpou o suor de seu rosto com o braço e ajeitou seus longos cabelos castanhos sob a camiseta branca encardida, que estava amarrada sobre a cabeça como forma de protegê-lo do sol. Ele suspirou e apoiou as mãos na sua enxada, que estava tão suja quanto seus pés.
- Que calor! Acho que vou me refrescar no rio – disse sonhadoramente ao vislumbrar o azul céu com seus olhos castanhos claros.
- É uma boa idéia, mas infelizmente eu tenho o que fazer em casa – disse um colega, igualmente jovem.
- Não há nada como um banho gelado e refrescante no Rio Pequeno! Olhe esse sol! – Lano insistiu fervorosamente.
- É realmente tentador! Bem que eu gostaria, mas eu não posso. Sério, Lano. Se eu pudesse mesmo, iria com você. A minha família inteira vai jantar em casa e a minha mãe não gosta de atrasos. É aniversário dela. Você me entende?
- Claro, eu entendo. Bom, então vou embora. Mande meus cumprimentos a ela. Até amanhã, Gil – disse Lano. Ele virou-se aos outros trabalhadores próximos e se despediu. – Até amanhã, pessoal.
- Até amanhã, Lano! Direi parabéns a ela por você – respondeu Gil.
- Até amanha, garoto. Se cuida – disse um trabalhador mais velho.
- Vá com a Deusa, meu filho – respondeu um outro senhor.
Lano colocou a enxada sobre o ombro e partiu por entre as fileiras da plantação. Havia vários tipos de legumes e tubérculos na lavoura, tais como cenoura, alface, beterraba, mandioca e tantos outros quantos poderiam caber no imenso terreno. Ele abriu o pequeno portão de madeira na parte norte, fechando-o assim que passou. A floresta se estendia à sua frente, com suas árvores de verdes folhagens. E era por lá que seguiria, através de uma pequena trilha de terra.
O rio da região não era muito largo. Qualquer pessoa com boa habilidade poderia saltar até a outra margem sem problemas. A profundidade era algo a se preocupar, principalmente para crianças ou pessoas que não soubessem nadar, um problema que Lano não possuía. O nome da cidade, Rio Pequeno, era dado exatamente a esse rio, mas ele só tornava-se verdadeiramente raso e menor na cidade. A correnteza era fraca, insuficiente para carregar um ser humano.
Lano apoiou a enxada numa árvore e largou sua roupa na grama. Tomou impulso, correu e mergulhou no rio, sumindo debaixo da água. O sol ainda era forte enquanto seus raios desciam por entre as árvores. Uma leve brisa balançava as folhas gentilmente. Lano ressurgiu na superfície do rio.
- Ah! Agora sim! – suspirou refrescado, ao jogar os cabelos para trás. Em seguida, ficou boiando nas águas tranqüilas, olhando para o céu.
Um som vindo do meio de um dos arbustos do outro lado do rio chamou sua atenção. Ele olhou para o lado, mas não viu nada. Lano voltou seu olhar para o céu, despreocupado. Alguma coisa saiu do arbusto rapidamente e foi possível ver apenas sua cauda, enquanto mergulhava no rio. Lano abriu os olhos subitamente, espantado:
- Mas o quê...?
Uma enorme cobra surgiu na frente dele, com a boca escancarada mostrando suas presas e língua bifurcada; uma jibóia, com seu corpo escamado e manchado por marrons de diversos tons. Seus olhos eram azuis-escuros, um estranho detalhe que passou despercebido por ele. A jibóia mergulhou e se enrolou no corpo de Lano. A enorme cobra tentava afogá-lo, enquanto seu corpo o esmagava. Ele ficou desesperado com a situação, talvez por nunca houver existido relato de um ataque assim na região. Cobras, só pequenas. Nenhuma era tão grande como essa criatura.
Numa das vezes que se viu debaixo d`água, um brilho chamou sua atenção. Quando se deu conta de que a causa desse brilho era uma espada, uma luz de esperança se acendeu. Ela estava levemente presa numa bainha, com apenas uma parte de sua lâmina visível. Lano tentou algumas vezes alcançá-la sem sucesso, enquanto a jibóia esmagava seus ossos. Na quinta tentativa, sua mão alcançou o cabo. Com fúria e desespero, ele desferiu um golpe na boca da cobra. Assim ela o desprendeu de seu abraço mortal e afundou lentamente nas águas, desaparecendo com a leve correnteza. Antes de sair do rio, ainda pegou a bainha que estava submersa e levemente coberta com a terra do fundo.
Ao sair d´água, examinou detalhadamente a espada e notou alguns aspectos peculiares na arma: a lâmina era parecida com uma folha longa e um pouco estreita, com suas ramificações moldadas no metal; o punho era cilíndrico e mantinha o tom metálico do restante da arma; no cabo havia uma espécie de orifício em forma de lágrima, do tamanho de uma palma de mão.
- Pela Deusa! – exclamou ele. - Nunca vi uma espada tão bela e ao mesmo tempo tão diferente do que uma arma dessas deveria ser. E pelo tamanho que ela tem, deveria ser bem mais pesada – completou, testando o peso da arma com uma mão.
A bainha poderia ser presa transversalmente nas costas do dono por uma correia de um material desconhecido, porém tão leve quanto uma tira de couro. Ela era de um metal igualmente estranho e da mesma cor prateada resplandecente que a lâmina, notou Lano logo que limpou a lama que a envolvia. Após examinar a arma com tanta admiração quanto uma criança, já estava anoitecendo. Se apressou em pegar suas coisas e correu na direção de sua casa, indagando sobre o que acabara de ocorrer:
- Nunca apareceu uma cobra dessas por aqui! Ainda mais uma tão enorme! O que está acontecendo? E como essa espada veio parar aqui, no fundo do rio? Realmente tive sorte. Muita sorte – repetiu baixo.

Sua casa era bem humilde, nos moldes das casas do interior de Tuna, com um telhado de sapé e paredes de tijolo pintadas de branco. Rachaduras apareciam por quase todos os lados, como se a estrutura estivesse prestes a ceder. Havia um poço e também um varal feito de pedaços longo de pau com algumas roupas a secar. Era um lugar solitário e um pouco afastado do centro de Rio Pequeno, em meio a árvores na beira da floresta, sem nenhuma vizinhança.
Lano virou a maçaneta e entrou na casa, fechando a porta atrás de si. O interior não era menos humilde. Uma pequena mesa de madeira ficava logo à entrada, com quatro cadeiras postas ao seu redor. Uma pia de barro e um forno, também de barro, ficavam à esquerda de quem entra. Logo à frente, no canto oposto à entrada, havia uma lareira apagada, além dum sofá velho voltado para ela.
Sua mãe, Dona Josefina, estava lavando pratos na pia. Era uma mulher de meia-idade, de cabelos castanhos, quase loiros. Usava um lenço vermelho amarrado sobre a cabeça. Quando ouviu a porta abrir, virou apenas a cabeça e olhou o filho. As olheiras indicavam a idade e o trabalho puxado a que teve que se submeter durante toda a sua vida.
- Oi, mãe. Como foi o seu dia? - perguntou automaticamente Lano, o tipo de frase que se diz ritualmente todo dia.
- Foi tranqüilo e puxado, como sempre é na fazenda Nevell. Que bom que você está aqui, Lano. – Ela firmou o nó do seu avental, voltando a atenção para a louça, e suspirou. – Seu irmão ainda não voltou para casa. Estou muito preocupada... É que ele nunca chega após o anoitecer!
- É verdade. Ele geralmente chega ansioso para o jantar. Creio que deve ter brincado demais com algum amigo, ou treinado magia, - Lano resmungou - e não percebeu a hora passar. A senhora quer que eu vá atrás dele?
- Ótimo, meu filho! Assim eu fico bem mais tranqüila. Tome cuidado.
- Eu terei, mãe.
Lano saiu apressadamente de sua casa e partia para a floresta quando lhe deu um estalo e retornou. A recém achada espada se encontrava apoiada junto à parede, ao lado da porta de entrada. Algo lhe disse para levá-la na busca de seu irmão, poderia ser útil. Então ele a pegou, deixando a bainha largada ao lado do pequeno degrau que levava á casa, respirou fundo e partiu.
Era uma noite estrelada e clara, e Lano estava acostumado com a floresta. Por esses motivos não se preocupou em levar um lampião. Alguns bugios observavam-no com interesse por sobre os galhos. Um barulho na mata a sua esquerda chamou sua atenção. Lano desembainhou a espada e esperou pelo pior. Mas para sua surpresa era um filhote de macaco, que se aproximou, era ainda mais curioso que seus semelhantes pelo fato de olhá-lo de tão perto. Lano, aliviado, disse:
- Era só o que me faltava... Saia daqui, macaquinho! Não tenho tempo de brincar.
Após espantar o macaco, seguiu por alguns minutos mata adentro, sem sinal de seu irmão. Onde estaria ele? Pensou em alguns lugares possíveis e foi indo para essas direções. A floresta parecia igual a olhos despreparados: árvores e mais árvores, todas muito parecidas, além de um denso mato e incontáveis plantas, uma cópia da outra. Lano sabia por onde seguia sem se perder por ter caminhado desde criança por ali, que não passava por um lugar que não reconhecesse. Andou até que ouviu um pedido de socorro desesperado:
- Pelo amor da Deusa, socorro!
Parecia que já havia ouvido essa voz antes. Ele seguiu correndo o grito barulhento e lá estava, no lado oposto de uma clareira, o motivo do socorro. Dodô, seu irmão, estava cercado por três grandes felinos de pelagem amarelo-alaranjada com manchas pretas. Três ferozes onças-pintadas. Mas havia algo diferente com os animais: seus olhos estavam totalmente azul-escuros e com um brilho estranho. As onças andavam de um lado para o outro, rugindo. Elas pareciam esperar por algo.
Dodô, um pouco diferente de Lano, tinha cabelos mais curtos e levemente despenteados, formando uma ondulação para fora da cabeça em sua extremidade. Por ser alguns anos mais jovem que o irmão, e por estar ao final da infância, era baixo em estatura. Talvez não se desenvolvesse tanto na altura e porte físico quanto o irmão, que quase sempre nadava no rio. Ele estava sentado, com as costas apoiadas numa árvore, completamente acuado. Dodô estava assustado e continuava gritando em desespero:
- Socorro! Socorro! Eu nunca venho para este lado da floresta. É só eu resolver andar por aqui, que acontece isso comigo... – choramingou.
Uma onça rugiu; seus olhos azul-escuros brilhavam intensamente. Lano se aproximou cautelosamente, evitando pisar em galhos e em mato crescido, para não atrair a atenção dos ouvidos apurados dos felinos. Ao chegar próximo à clareira, continuou observando a situação mais um pouco, enquanto traçava mentalmente uma linha de ação de como poderia ajudar o irmão. E lá estava mais uma espécie estranha de animais nas proximidades de sua vila. O que as trouxe aqui, nesta região tão calma, de animais silvestres, pensou Lano, qual seria o motivo?
Sem mais delonga, resolveu agir já que não saberia dizer por quanto tempo mais os animais ficariam cercando seu irmão antes de atacá-lo. A espada estava empunhada quando partiu correndo na direção das onças. Chegara a conclusão de que atacar de uma vez seria melhor, aproveitando o elemento-surpresa. Iria acabar com todas o mais rápido possível usando sua habilidade na esgrima. Há anos treinava quase todos os dias com sua espada de madeira, que somente a Deusa sabia onde estava hoje em dia. Parara de treinar quase que completamente desde que começara a trabalhar nas plantações. Talvez estivesse um pouco enferrujado, mas não conseguira pensar em mais nada naquela situação crítica. Então era hora de tirar a ferrugem dos braços para proteger o irmão, nem que isso significasse seu fim.
A clareira não era muito grande e Lano a atravessou rapidamente. Uma das onças, a que se encontrava no meio, virou-se e o encarou, sem chances de agir. Com um golpe rápido, Lano fincou a espada no corpo dela. A onça caiu e suas companheiras recuaram, surpreendidas. Lano parou ao lado do irmão e perguntou ansiosamente, retomando seu fôlego:
- Dodô, você está bem?
- Estou. Desculpe, eu...
- Muito bem – interrompeu Lano. – Agora que sei que está bem, não perca tempo. Vá pra casa e não saia de lá. Eu vou distraí-las enquanto você foge.
- Lano, que espada é essa? – Dodô perguntou curioso, como se nem estivesse mais em perigo.
- Eu a achei no rio – Lano disse rapidamente, sem paciência.
- Que incrível é ela! Nunca vi uma igual, nem ao menos parecida! Posso te ajudar agora? – perguntou subitamente, com um olhar de esperança.
- O quê? – Lano arregalou os olhos incredulamente. - Você estava gritando por socorro até agora!
- Mas...
- Apenas vá! – mandou Lano. – Agora!
- Tudo bem... – concordou Dodô, desanimado. Levantou-se num pulo e correu para a floresta.
Com o irmão em segurança, Lano poderia se dedicar a enfrentá-las sem preocupação. Encarou furiosamente as onças restantes. Elas devolveram seu olhar agressivo e rugiram em desafio. Uma delas avançou na direção dele, que se esquivou na hora em que ela saltou sobre ele num movimento rápido. A onça bateu de cara na árvore. Aproveitando o momento, Lano atacou a onça atordoada, trespassando a espada em suas costas. Ela caiu morta a seus pés. Nem uma gota de sangue pingou ou sobrou na lâmina quando a espada foi retirada do corpo inerte. Detalhe que Lano não notou, mesmo porque estava com a atenção presa em sair vivo dali.
A última observou o ataque de Lano, como se fosse a líder das outras, esperando que suas subordinadas fizessem o serviço. Essa onça era notavelmente maior que as demais, com um corpo bem robusto e ombros mais largos. Como se esperasse o momento certo partiu em toda sua fúria para cima de Lano, pegando-o de surpresa. Dobrou as patas e pulou sobre ele, que caiu de costas no chão de terra, levantando uma leve nuvem de poeira. A boca do animal estava separada do rosto dele apenas pela espada. Lano a segurava com uma mão no cabo e a outra na lâmina. O animal rugia e tentava mordê-lo. Um pouco de saliva caiu-lhe no rosto, obrigando o garoto a fazer uma careta de nojo.
Com os pés, ele empurrou a onça para trás, que rolou alguns metros ante de se levantar e partir novamente na sua direção. Lano tomou a única decisão que lhe coube no momento: correr para a floresta o mais rápido possível. Mesmo assim, a onça o perseguia bem próximo, parecendo não deixá-lo partir. No desespero não sabia mais para onde estava indo acabou por chegar novamente na clareira. Lano tentou escalar uma árvore e não conseguiu, desabando no chão com tudo. Resmungou, irritado. Olhou para trás e a onça havia sumido. Não demorou e, como se pressentisse a presença do animal, olhou para seu lado esquerdo e lá estava a onça partindo com toda a velocidade para cima dele.
Lano encarou o animal. Em questão de segundos segurou a espada como uma lança e a arremessou de encontro à onça. O selvagem felino chegava cada vez mais perto dele, assim como a espada de seu alvo. Tudo parecia acontecer lentamente, até que a lâmina perfurou a barriga da onça. A espada atravessou o animal, e fincou numa árvore mais adiante, onde ficou balançando para cima e para baixo até cessar o movimento.
Recuperando o fôlego, Lano se levantou e olhou para todos os lados para ter certeza de que havia derrotado todas as onças. Confirmando sua vitória, caminhou ofegante até a árvore e retirou a espada com certo esforço. Suspirando, olhou novamente para a clareira e, para sua surpresa, os corpos dos animais haviam sumido. Nenhum rastro de sangue, nem um sinal de que ao menos houvesse acontecido qualquer luta.
- Mas o que houve aqui? – Lano perguntou a si mesmo, sem entender o que se passava. – Em todo caso, é melhor ir embora.
E Lano partiu com uma expressão de dúvida estampada em seu rosto. Pelo menos se saíra bem e retirara qualquer vestígio de ferrugem em seus músculos destreinados que pudesse atrapalhá-lo a lutar com maestria, que foi como lutou e venceu sua primeira batalha de verdade.
Sem que houvesse percebido, uma figura observara a batalha sobre o último galho de uma árvore. Não era possível ver seu rosto e nem sua forma, por estar escondido pela sombra das folhas, a não ser um sorriso com o canto da boca.

A porta se abriu e Dona Josefina estava à espera de Lano, sentada sobre o velho sofá de couro preto.
- Meu filho, vamos conversar. Seu irmão já foi se deitar. Pode ficar tranqüilo que está tudo bem com ele. – Dona Josefina estava com um olhar vago, em direção à lareira. Finalmente disse - Acho que você deve ir para a cidade de Tuna, falar com seu tio. Eu sei que é repentino, mas esses estranhos acontecimentos não parecem ter acontecido por acaso. E já preparei provisões para sua viagem.
Lano foi tomado de surpresa ao ouvir essa informação e expôs todo o seu receio:
- Eu entendo sua preocupação e também quero achar a resposta pra isso tudo, mas não posso abandoná-la aqui. Não posso parar de trabalhar na plantação porque senão quem irá te ajudar?
- Calma, meu filho – tranqüilizou-o Dona Josefina, ao voltar o olhar para o filho. - Olhe sua idade! Já está na hora de você realizar seu sonho e ingressar na Academia Militar de Tuna! Assim como seu pai e tio fizeram!
- Meu pai... – repetiu Lano, baixo. Um fogo acendeu em seu coração. – Meu sonho...
- Desde que ele desapareceu naquela invasão pirata há oito anos em Tuna, eu sabia que esse dia chegaria. Você e seu irmão eram pequenos demais para entender isso direito.
- E todos esses anos você não contou nada? Você me disse que ele foi numa jornada a um lugar longínquo e nunca havia retornado! – estourou Lano.
- Eu sei, meu filho. Eu não tinha escolha. Na época parecia mais simples dizer aquilo. Espero que você me perdoe...
- Desculpe, mãe... – Logo ele se acalmou e suspirou. - Acho que você tem razão...
- Não foi nada. Eu entendo sua indignação – ela disse compreensiva. Depois, continuou - Ele desapareceu lutando em Tuna. Nunca acharam nada. Nem um rastro dele sequer...
- Não acharam nada mesmo? – perguntou Lano, esperançoso. - Será que ele está morto?
- Não sei, Lano. Meu coração diz que não, mas realmente não sei dizer... Faz tanto tempo... Mas seu tio sabe muito mais do que houve. Ele poderá lhe contar com detalhes. Vá, meu filho. Vá sem remorso. Você já parou de estudar pra me ajudar. Já se sacrificou demais por nós. Eu e Dodô daremos conta. Não se preocupe mesmo.
- Eu não posso abandoná-la! Eu sei que esse é meu sonho, mas...
- Lano! – Dona Josefina exclamou, com um pouco de repreensão. - Eu me viro. Como esperava por esse dia, já vim me preparando esses anos todos. Eu juntei um pouco de moedas para essa ocasião.
- Tudo bem... Se você quer mesmo, eu irei. Eu agradeço por tudo – disse Lano ao abraçar sua mãe, já aceitando sua imposição.
- Não precisa me agradecer.
Ela deu um largo sorriu e Lano o retribuiu com outro maior ainda.
- Então vou me deitar. Boa noite.
- Boa noite, Lano. Eu te acordarei amanhã cedo. Esteja preparado!
Ele assentiu e caminhou para seu quarto e desapareceu sob a penumbra da porta.
Dodô estava dormindo tranquilamente, largado como uma criança despreocupada dorme. Nem parecia que algum tempo atrás tivesse sido ameaçado por onças na floresta. Lano riu com a cena enquanto se despia das roupas suadas e colocava sua roupa de dormir, que estava dobrada e bem limpa sobre o criado-mudo ao lado de sua cama. Trabalho de sua mãe cuidadosa. Sentiria falta daquilo tudo, com certeza.
Ao deitar-se sobre o lençol branco, já escurecido pelo uso freqüente, Lano lembrou-se de seu sonho que fora guardado num canto da memória desde que passara a trabalhar na lavoura para ajudar a família. Ele já ansiara por isso quando era pequeno. E até se esquecera de que aos dezessete anos (a idade que acabara de completar), o jovem que queria ser um oficial do exército de Tuna, deveria se apresentar na academia militar na capital.
Se tornar um oficial era o sonho de muitos jovens. Poucos conseguiam, pois deveriam ter alguma indicação e ainda assim, teriam que passar nos difíceis testes físicos, sem contar no escrito. Aqueles que não passassem nos exames ainda teriam a chance de se tornar soldados do reino, mas poucos optavam por essa escolha, já que era um cargo menos remunerado. Além de que, claramente, muitos se sentiam inferiorizados por estarem abaixo do nível hierárquico que aspiravam estar.
Era um ano de instrução geral, com treinamentos básicos para todos, independente de qual divisão seguiriam. No ano seguinte, conforme seu desempenho no primeiro ano, os oficiais em treinamento escolheriam uma dentre quatro divisões: infantaria, cavalaria, artilharia ou marinha. Tendo decidido o caminho a trilhar, seriam mais três anos até se graduar como um oficial. Se ele tinha essa oportunidade de virar um oficial, então deveria aproveitá-la. Seu tio estava na marinha e seu pai fora da infantaria. A mera lembrança dos dois uniformizados trouxe breves lágrimas em seus olhos sonhadores.
Os guerreiros da infantaria eram os Lobos Cinzentos. Essa divisão era exclusivamente para guerreiros, aprimorando sua arte de usar espadas ao atacar e o escudo para se defender. Eram os primeiros a avançarem no campo de batalha e também por isso os primeiros a tombarem. Tinham sempre soldados extremamente corajosos e sem medo da morte.
Os Cavalos Brancos compunham a cavalaria: combate montado e a utilização de armas pesadas (lanças, martelos-de-guerra etc...). Todos os seus combatentes aprendiam a montar cavalos que, por sinal, eram todos brancos por causa da tradição. Geralmente seguem logo atrás dos infantes, dando suporte ao ataque nas vanguardas das batalhas. Em alguns casos também são batedores por causa da velocidade das montarias, trazendo informações frescas sobre os acontecimentos nas campanhas de guerra.
Quem ingressava na artilharia (arco-e-flecha, balestra, catapulta e canhões) eram os Macacos-de-Guerra. No geral cuidavam das defesas de fortes e cidades, contando com suas miras apuradas e exaustivamente treinadas para acertar o menor e mais longínquo alvo, esteja ele parado ou em movimento. Era o terceiro grupamento a se dirigir para uma batalha.
A divisão da marinha eram os Dragões Marinhos: composta de marinheiros e era ligada ao combate e transporte naval. Navegam em seus grandes e bem equipados navios de guerra, as caravelas. Sempre possuía uma esquadra vasculhando os mares ao redor de seus portos, protegendo-os de possíveis ataques piratas, ou até mesmo de algum eventual ataque de monstro que resolvesse perturbar a paz da população.
Havia ainda a divisão especial, conhecida como Espectros de Tuna. Nela entravam somente pessoas com habilidades especiais (magos, curandeiros, dentre outras classes incomuns ao exército). Suas tarefas eram das mais diversas, dependendo da habilidade específica da pessoa. Mas essa divisão não era ligada à academia. Seus integrantes eram escolhidos a dedo pelo seu comandante, e não eram muitos. Os poucos que existiam atuavam somente em situações extremas de guerra ou em missões secretas, motivo pelo qual vieram a serem chamados de Espectros.
A princípio Lano queria seguir os passos do pai, sendo um Lobo Cinzento, mas lá poderia decidir onde seguiria carreira. Ele não iria deixar passar essa oportunidade dada pela mãe, mesmo que um pouco a contragosto por ter que abandonar o lugar que sempre viveu e amava. E também, é claro, por deixá-la sozinha. Lano nunca saíra de Rio Pequeno e finalmente chegara a hora. Com esses pensamentos, adormeceu para um futuro que ele nunca imaginaria.

Era manhã, e o sol surgia timidamente atrás do vasto horizonte esverdeado do leste, quando Lano partiu para Tuna. Usava uma roupa leve para a viagem, que era uma camiseta branca e encardida, além de uma calça marrom desbotada como as botas velhas de couro puído. A bainha com a misteriosa espada estava presa entre as suas costas e a mochila com provisões. Não poderia deixar de levar a arma.
Segundo sua mãe, ele deveria seguir a estrada leste por aproximadamente dois dias até a capital Tuna, que possuía o mesmo nome do reino. Era uma estrada inteiramente de terra batida, pouco movimentada. Raramente se via algum viajante. Vez ou outra havia alguns salteadores. Olhando para todos os lados da estrada só se via uma imensidão verde e plana. Esse lugar era chamado de Planície Mar Verde, por lembrar um mar feito inteiramente de grama e pelo vento balançar a vegetação como ondas. Parecia não ter fim, a não ser ao norte, onde uma cadeia de altas montanhas se erguia. A estrada cortava em duas a grande planície.
Com tempo de sobra na viagem, ele voltou a lembrar o que lhe esperava em Tuna. Seu tio, por parte de pai, era um capitão da marinha. Fazia anos que não o via. Ao pensar no tio, conseqüentemente se lembrou do pai. Lano sempre treinara o uso da espada quando era mais jovem com ele. Isso é, até ele partir. Lano não conseguia parar de pensar nessa história:
- Eu não posso culpar minha mãe por não ter nos contado isso. Agora que eu me lembro, realmente achei estranho ele nunca ter retornado naquela época. Mesmo ela falando que meu pai iria numa jornada importante e não saberia quando voltaria, podendo levar vários meses, ou até anos... Bom, não posso me preocupar mais com isso. Minha mãe fez o que achou certo.
Lano retirou a espada, a brandindo no ar, e a examinou novamente. Ele já tinha experiência com espadas e isso seria fundamental nos duros testes da academia. Na época em que ainda treinava usava sua velha espada de madeira. O treino era bem simples e objetivo: usava a espada contra inimigos imaginários e às vezes contra indefesas árvores. A batalha contra as onças o ajudara a recordar seus movimentos e ver que estava até que num estágio até certo ponto avançado na arte de esgrimir, mesmo tendo treinado boa parte sozinho após o sumiço do pai.
Como se pressentisse algo, ele parou, criando um silêncio repentino na tensa atmosfera ao seu redor. Ouviu um leve som de passos se aproximando. Ao se virar, um vulto estava atrás dele. Lano apontou a arma na direção do perseguidor, mas o vulto falou, após largar um simples cajado de madeira no chão:
- Pare, Lano... Sou eu... - arfando, seu irmão Dodô colocou uma mão na perna e a outra em frente ao rosto, como se pudesse parar a lâmina da espada. Ele trajava uma surrada veste verde de mago, que tinha um capuz pendurado nas costas. Havia um cinto simples preso ao redor da cintura. – Eu... Eu... Eu vou com você!
Lano fincou a espada no chão e disse, revoltado:
- De jeito nenhum! Como a mamãe ficará sozinha? Quem cuidará dela? Como...?
- Pode deixar, que minha família cuidará disso!
Atrás do seu irmão estava uma garota, a dona da voz autoritária e orgulhosa. Apenas após ela falar é que Lano a notou, pois estava por demais irritado com a presença de seu irmão. Os cabelos negros da jovem eram como o céu noturno e os olhos tinham uma estranha, porém bela diferença de cores: um azul e um verde, ambos num tom escurecido. Ao lado dos seus lábios carnudos havia uma pequeníssima pinta, um pequeno toque acrescentado à sua beleza. Um medalhão dourado em seu pescoço, com o nome da família Nevell modelado em alto relevo, chamava a atenção por sua riqueza. Presa ao redor da perna havia uma bainha de couro com uma adaga, novamente enfeitada pelo nome de sua família. Ela continuou:
- Você sabe que minha família é muito rica! Eles cuidarão de sua mãe e do resto das coisas.
- Maria, você também está aqui? – perguntou Lano, descrente.
Maria era sua amiga de infância. Estudaram na mesma e única escola de Rio Pequeno, até que Lano abandou os estudos. Mesmo que fosse rica, os dois sempre se deram bem e se encontravam em algumas oportunidades no mesmo rio em que se iniciou a aventura, onde conversavam as mesmas futilidades que jovens falavam, além de trocar alguns de seus sonhos. Ela tinha apenas um ano de diferença, sendo mais nova que Lano.
- Eu convenci meus pais de que iria finalmente estudar na escola particular de Tuna. Como eles queriam tanto que eu estudasse lá, mas não queria ir lá, morar sozinha, agora tenho motivo para ir, não é? - disse Maria, encarando Lano.
- Sim, mas ainda assim você está vindo sozinha – disse Lano, sem desconfiar do olhar apaixonado de Maria. Paixão esta, que carregava desde quando se conheciam.
- Mas como Dodô está junto, não há problema algum.
Lano deu de ombros.
- E você, Dodô? Qual é sua desculpa? – perguntou desconfiado.
- A Maria também conseguiu convencer seus pais de que só iria se eu estudasse na Escola de Magia de Tuna.
- Só uma coisa, Lano – se intrometeu Maria. A garota tinha um tom de voz que indicava que gostava de se impor. – As aulas só começam mês que vem.
- Isso quer dizer que você saiu de casa antes do tempo? – perguntou Lano, incrédulo.
- Sim, sim. Fiz isso mesmo! Quero aproveitar e passear um pouco pela cidade, pra já ir me acostumando.
- E como vocês ficaram sabendo de tudo?
- Eu ouvi toda a sua conversa com mamãe ontem. E logo depois que você dormiu, eu fui correndo contar tudo pra Maria.
- Ah, foi mesmo! E ainda bem que ele me contou! O que seria de Lano sem nós dois! – disse Maria, sorridente. - De qualquer jeito, logo acordei e convenci meus pais e pronto! Enquanto meu pai foi cuidar das coisas necessárias, eu fui me encontrar com Dodô e avisei sua mãe. Ela iria conversar depois com eles.
- E ela concordou com essa trama toda, Dodô?
- Acredite no que quiser, Lano. Ela até que gostou da idéia de você ter alguma companhia em Tuna! Pode acreditar!
- Bom, já vi que não tenho escolha... Mas eu não vou me responsabilizar por vocês.
Maria e Dodô se olharam, sorrindo com satisfação. Lano retirou a espada do solo e a embainhou. Com a discussão encerrada, partiu com os dois no encalço, trocando conversas animadas, já pensando na vida em Tuna.
Por volta do meio-dia os três seguiam viagem, tendo percorrido alguns quilômetros. Alguns pássaros voavam lá e cá no azul do céu, e suas sombras escureciam o verde da grama por onde passavam.
- Essa paisagem não muda. Já cansei de tanto verde – reclamou Dodô.
- Pode agüentar, porque não vai mudar muito até amanhã à noite – disse Lano.
- Ai, ai... – suspirou Maria, indicando que concordava com Dodô.
- Bom, é isso que dá irmos antes do tempo. Pelo menos vou poder conhecer Tuna logo. Eu sempre quis isso!
- Você sempre quer alguma coisa. Eu estava indo sozinho até lá e estava pensando agora que até que seria bom ter alguém comigo. Até que esqueci que você não para de reclamar, Dodô. Isso é, quando não está admirando qualquer coisa diferente que vê!
- Não é verdade! Eu só quis dizer que esse verde poderia ter algo de interessante além de tanto verde! Só isso. Acalme-se...
- Hmpf! – Lano bufou.
- Dodô tem razão. Não fique bravo. Se você quiser, nós vamos sozinhos!
- É isso mesmo! – concordou Dodô e os dois se adiantaram na estrada. Lano, impaciente, não ligou. Ele até desacelerou o passo.
Pouco tempo depois ele ainda seguia em silêncio, menos os dois. Lano voltara para a dianteira, seguido por Maria, e Dodô um pouco atrás observando qualquer sinal de novidade. De repente, Lano parou e olhou espantado para o céu. Maria também fez o mesmo. Dodô, que estava distraído, ultrapassou os dois, que estavam parados como estátuas, e perguntou com curiosidade:
- O que vocês estão olhando? Eu quero ver também!
Quando se deu conta, Dodô parou e olhou também, se juntando aos seus espantados amigos. Era uma visão magnífica: algo muito brilhante caía lentamente na direção das montanhas. Parecia uma estrela cadente, só que maior e de um brilho mais intenso. Essa coisa deixava um rastro brilhante e azul em seu trajeto, que desaparecia aos poucos como gotas quando atingem o solo e se divide em milhares de gotículas quase invisíveis.
- Mas o que é isso? – Maria estava embasbacada.
- Eu não tenho a menor idéia, mas é impressionante! - Dodô respondeu, boquiaberto.
Lano não conseguia tirar os olhos do céu, quando sentiu algo nas costas, o molhando. Ele retirou a espada da bainha e viu que gotas caíam ininterruptamente do orifício em forma de lágrima. Ela estava literalmente chorando. As lágrimas eram brilhantes, parecidas com o objeto estranho no céu. Após a última lágrima azulada tocar o chão, a poça começou a brilhar e a se revolver num movimento borbulhante. Continuou assim, numa forma indefinida por alguns segundos. Após muito se remexer, a forma final que as lágrimas tomaram era a de uma seta, que apontava para o norte.
- Minha Deusa! O que está acontecendo? – indagou Lano. - Primeiro fui atacado no rio por uma cobra enorme quando achei essa espada. Depois as onças que te cercaram, Dodô. Agora cai do céu uma coisa estranha e a minha espada chora! E essas lágrimas formam uma seta que aponta justamente para onde essa coisa está indo! – Lano resumiu todos os acontecimentos de uma só vez, como se isso fosse resolver suas questões.
- Realmente é incrível! Vamos atrás dela! – Dodô propôs na hora, com sua voz cheia de ansiedade pelo mistério.
- De jeito nenhum, nós temos que nos matricular nos nossos cursos! – se indignou Maria. - E você, Lano, tem que falar com seu tio. Ele saberá o que fazer. Não é, Lano? Lano?
- Acho que ele tem razão, Maria. Quando essas lágrimas caíram, eu ouvi algo estranho em minha mente. Algo me chamando, pedindo ajuda. Uma voz doce, mas triste – disse Lano seriamente, para surpresa dela. - Senti que algo importante está para acontecer, que tudo o que me ocorreu até agora está ligado a isso.
- Mas... – ela disse sem reação.
- Lano, eu estava brincando! Pelo amor da Deusa, vamos seguir pra Tuna! – disse Dodô.
- Não me importo com Tuna. Isso é sério. Vou atrás dessa luz, antes de ir até lá. Estou partindo agora e peço que vocês não venham comigo, pois não sei o que vou encontrar pela frente – disse Lano, ao ajeitar a mochila nas costas e se virar na direção do objeto brilhante. – Me desculpem por abandoná-los assim, mas eu vou. Não precisam acreditar em mim, mas acredito que seja meu destino. Adeus.
Lano partiu decididamente para a planície, após sua súbita decisão. Dodô, ainda chocado, olhou cabisbaixo para o chão:
- Acho que vou seguir pra Tuna. Ele não quer nossa companhia mesmo...
Maria, pensativa, olhava para Lano e para a estrada. Para Lano e para a estrada. Para a estrada e para Lano. Para a estrada... E para Lano. Até que ela se decidiu:
- Eu não me importo, vou atrás dele. Quer ele queira, ou não. De qualquer jeito, nós temos umas duas semanas até as aulas começarem. Bem, até mais, Dodô.
Ela partiu, determinada, sem olhar para trás.
- Ahhh! Esperem por mim! – berrou Dodô e disparou atrás de Maria, quase tropeçando pelo gramado. Ele ainda comentou para si – Acho que me arrependeria depois se não fosse.
Então os três partiram naquela tarde quente de verão na direção das montanhas. O objeto continuava a cair em seu ritmo lento, para além da cadeia montanhosa. Era um objeto em forma de lágrima, da cor azul. Havia a imagem de uma sereia nele.

J.C.Cartolano

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Como surgiu Lágrima da Deusa - Epílogo

Após um ano de pesquisa e trabalho árduo, mas totalmente recompensador, acabou-se o projeto final e a faculdade. Acabei tirando 9,0. Logicamente preferia um 10,0, só que sabia que faltava ter feito alguma animação que mostrasse um pouco do episódio piloto para o professor ter me dado a nota máxima. Paciência. De todo modo a nota é uma questão de opinião e não seria isto que definiria meu projeto.

Tive um fim de faculdade de agenda lotada: num dia a apresentação do trabalho final, no dia seguinte já a colação de grau e no subsequente a balada de formatura. Resumindo em emoções, respectivamente: ansiedade e superação, vergonha e alegria, diversão e tristeza. Tudo se acabara. Pelo menos se manteria as amizades, talvez o mais importante que conquistei lá.

Dali para frente seria arranjar trabalho e seguir carreira. Enquanto não arranjava um emprego(passei uns bons meses sem), acabei resolvendo continuar meu projeto como forma de passar o tempo e não me desesperar, escrevendo o que seriam os capítulos seguintes na saga da Lágrima da Deusa. E assim fui escrevendo os episódios nos meses seguintes, chegando a escrever 24, o equivalente a uma temporada. Mas como foi tão intenso, tão bom escrever tudo aquilo e de tão grandioso que se tornou, percebi que não daria para uma animação para a TV; seria inviável. Foi aí que surgiu a idéia de transformar em uma série de livros. Como nunca havia escrito tanto como naquela época, descobrindo meu prazer por tal (e por que não vocação?), investi pesado nessa empreitada.

Então fui atrás de como registrar meu livro e o fiz na Biblioteca Nacional. Depois veio a parte mais complicada: encontrar uma editora. Posso dizer que até hoje não encontrei. Enviei uma porção de cópias para algumas editoras. Não adianta mandar para todas, você deve escolher aquelas que publiquem livros com seu tema específico. Então as escolhi e enviei para cinco. Destas, somente uma deu retorno alguns meses depois (no final de 2005, para ser mais exato) de que não seria escolhido para publicação. Do restante a esperança se esvaiu no ano seguinte e desisti.

De lá para cá ainda tentei alguns contatos, mas sem sucesso. Até teve uma que se disse interessada em publicar, mas eu deveria custear a impressão. Ou seja, era um "contrato leonino", usando a expressão de uma pessoa com quem conversei sobre livros e publicações. E nem tinha aquele dinheiro naquela época (início de 2008).

Até reli algumas vezes e corrigi e acrescentei. Atualmente estou empacado no começo do terceiro livro. Faz um belo tempo que não escrevo. Não que tenha desistido. Fiquei um pouco desanimado, confesso, mas ainda estou me reanimando e planejando reescrever, utilizando tudo o que aprendi em alguns cursos que fiz desde que me formei na faculdade.

Finalizando, ainda sei que posso vencer. Amo minha história, meus personagens e tudo o que criei e que envolve a saga Lágrima da Deusa. Vou chegar lá sim. Esta história vai ganhar vida. Mas ainda tenho um longo caminho a percorrer para obter esta conquista. E por aí seguirei, assim como Lano, em busca das Lágrimas que caem, deixando seu lindo rastro brilhante no azul do céu.

Na próxima postagem vou deixar a versão mais atual do primeiro capítulo.

Abraço!

J.C.Cartolano

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Como surgiu Lágrima da Deusa - pt. 6 - A Apresentação

Após um longo ano de trabalho e de muita expectativa, chegava o dia D da faculdade, o que todos não veem a hora de chegar simplesmente para passar logo: a apresentação do trabalho final, o TGI. Era a hora da verdade, completar o ciclo de 4 anos de curso. Mostrar a sua idéia ao mundo (pelo menos ao pequeno mundo da banca que assiste sua apresentação e amigos, parentes e um ou outro curioso).

Aquela noite de dezembro finalmente chegou e eu estava bem treinado para apresentar meu projeto, seguindo o cliché de usar como guia um arquivo feito em powerpoint. Treinei bem em casa e tinha tudo na ponta da língua. Só que minha língua realmente não era treinada para um trabalho desta magnitude. Sempre, em todos os outros trabalhos de faculdade e escola, sofria e quase não falava nada por conta de minha timidez e insegurança. Me dá aflição só de lembrar. Contei sempre com a ajuda e paciência de amigos, a quem devo muito e sou eternamente grato. Desta vez não tinha como. Era eu e somente eu. Mais do que enfrentar um público, tinha de enfrentar meus próprios medos, uma batalha que hoje em dia, após esses anos, digo com plena certeza que finalmente estou aos poucos melhorando e vencendo.

Na minha turma de programação visual tinha uns 20 alunos e as datas das apresentações foram definidas por um sorteio realizado em sala de aula, sendo que cada dia seriam duas apresentações. Tive a grande sorte de ficar pro último dia, junto com um grande amigo. Além de poder ter mais um tempo para finalizar o trabalho, poderia assistir as outras apresentações, tendo assim como observar o que a banca examinadora observava e assim melhorar alguma coisa. O lado ruim é que com este tempo a mais ficaria mais ansioso pela minha vez. E, meu Deus, como fiquei!

No dia em si não fiz nada a não ser treinar a apresentação e tentar relaxar, mas foi difícil. Cheguei bem mais cedo à faculdade, levando minha CPU debaixo do braço. Encontrei alguns colegas e outros que pensei que só veria na colação de grau e na festa de formatura. Isso na realidade era sinal de que teria a casa cheia naquele dia, ou seja, muita gente assistindo a apresentação. Devido a doença, o professor responsável ausentou-se no dia anterior e as duas apresentações daquele dia passaram para o meu. Droga... Mais um desafio... Fazer o quê.

Lá fui eu pra sala. Na realidade eu seria o 3° na ordem de apresentação e talvez ficasse livre da maioria das outras pessoas que foram ver as outras apresentações. Mas minha irmã estava grávida, praticamente dando a lúz, e não aguentaria esperar muito. Resultado: tive que adiantar minha apresentação. Em palavras aqui já usadas, a casa estava cheia. Muito.

Deixei instalado minha CPU e assisti a 1a apresentação. Foi rápido até. Aí chegou minha vez. Finalmente... Nervoso que nem eu estava, fui pra frente da sala. Como as coisas dão errado quando não devem dar, deu. Havia levado um pointer para passar os slides da apresentação enquanto falava, mas não funcionou. Em casa havia funcionado, mas lá não. Nervossismo aumentando e eu suando... Então um amigo assumiu e foi mudando pra mim. Aí sim começou de verdade. Não dá pra explicar o terror que eu senti, a vergonha, tudo aquilo que eu passei enquanto apresentava meu projeto. Muitos olhos me assistindo, pensando, julgando. Terrível. Era meu pior pesadelo, ali, lado a lado comigo. Mas continuei. Sofrendo e aos trancos e barrancos. Chegou a hora de mostrar no programa em 3D como fiz as modelagens e animações. Infelizmente o computador estava demais em questão de lerdeza e não consegui abrir nada pronto. Acabei mostrando imagens já prontas do que havia feito. E pra piorar o antivirus teimava em mostrar que meu PC estava infectado. Maldito! Continuei, dizendo nervosamente que aquilo não fazia parte do trabalho. Era pra ser uma brincadeira, mas nervos como estava, não saiu direito...
Pra finalizar, tentei passar o VHS da abertura, só que não saía nada na projeção. Buscaram o responsável e ele arrumou, assim mostrando a abertura que fiz. Fui aplaudido. O pior passou. Agradeci a todos que me ajudaram, especialmente a minha mãe por bancar a faculdade, e aos amigos professores envolvidos do começo ao fim no projeto.

Exageros a parte em relação ao sofrimento que foi pra mim tudo isso, pela minha característica retraída, minha voz saía baixa e pra dentro. Este foi o ponto negativo que mais me chamaram a atenção na banca. Até aí tudo bem. Era uma coisa pra melhorar. De modo geral, elogiaram, gostaram da história, falaram pra continuar o projeto, etc... O professor de projeto até se emocionou ao comentar de toda a evolução, de ter mostrado empolgadamente a ele tudo o que conseguia pro projeto. Minha orientadora também elogiou e me defendeu dos outros presentes a banca no sentido de eles terem falado que eu não vendia meu produto, não mostrava confiança nele. Não era verdade de maneira alguma. Era a questão da timidez mesmo. E finalmente também recebi elogios de meus parentes que resolveram falar ao serem dadas a palavra pelo professor.

Foram muitas, mas muitas emoções naquela noite quente de dezembro. Desde a extrema ansiedade até o choro honesto de missão cumprida. Este foi o fim daquele trabalho, da convivência com amigos e professores. O fim de um ciclo. Uma grande conquista.

Mas ali dava-se início a uma nova era, que ainda está se desenvolvendo para entrar para a história. A história de minha vida.

Abraços!

J. C. Cartolano