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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Brasil Fantástico

Este texto escrevi para o curso de Comunicação Escrito que venho frequentando. Foi uma ótima oportunidade para puxar sardinha para nossa literatura fantástica. O melhor é que o professor achou muito bom. Legal, não? Isso significa que estou trilhando o caminho certo! Aí vai:


Brasil Fantástico

Nada de J. K. Rowling e seu mago adolescente Harry Potter. Nem Rick Riordan e o semi-deus Percy Jackson. Muito menos Stephenie Meyer e o triângulo amoroso humana-vampiro-lobisomem. Os nomes da vez na literatura fantástica são André Vianco e Eduardo Spohr. E eles são brasileiros. Os autores das séries famosas acima são estrangeiros. Isso significa que são melhores escritores, só porque vendem mais e porque são internacionais? Não necessariamente. Há quem não acredite que não existam escritores de literatura fantástica no Brasil. Mas eles estão aí, se proliferando e o gênero está crescendo muito. Infelizmente existe o preconceito, como em qualquer arte em evolução ou pouco desenvolvida em um país como o nosso. Os leitores precisam desbravar seus mundos, vivenciar suas histórias, conhecer e reconhecer o potencial de nossos escritores.

O gênero fantástico já existe há muitos anos, aparecendo em obras antigas como Alice no País das Maravilhas. Também é conhecido como ficção especulativa e engloba três gêneros principais: a fantasia, a ficção científica e o terror. Por sua vez, estes três se dividem em diversos outros subgêneros. Estes variam de acordo com o período, ambientação, se existem criaturas, magia e o tipo de tecnologia empregada. Podem existir na nossa própria realidade como histórias alternativas. Podem até mesmo, e isso é bastante comum, acontecer uma miscelânea de todos.
No Brasil, o gênero existe também há um bom tempo, escondido sob outros rótulos. Monteiro Lobato, por exemplo, talvez seja o maior escritor de literatura infanto-juvenil de nossa história. Já colocava muitos elementos fantásticos. Além do folclore nacional e mundial, um de seus personagens logo de cara é um ser fantástico: Emilia, uma boneca de pano que toma vida. Importantíssimo, mas isso é o passado. O que o presente nos trás vai além da história infantil.

André Vianco escreve sobre vampiros desde seu primeiro livro Os Sete (2000). Ambienta sua história em cidades brasileiras, especialmente São Paulo. Aí há uma aproximação do público, uma familiaridade que atrai leitores. Sua obra de mais de 10 livros já vendeu mais que 700.000 exemplares. Para um escritor nacional de um gênero em que as pessoas, no geral, compravam somente traduções de literatura estrangeira, está mais do que ótimo. O surgimento do fenômeno Crepúsculo com certeza elevou as vendas. Com isso a tendência de livros sobre vampiros cresce, assim como a procura por estes. Um fator que muito ajudou, e sempre ajuda, na divulgação.

Outro fator, este bem mais atual, é o uso da internet como forma de divulgação. Um autor que se lançou na carreira literária graças à internet é Eduardo Spohr e seus anjos. O livro A Batalha do Apocalipse, começou com uma tiragem independente de 100 exemplares, vendidos pelo site http://jovemnerd.ig.com.br/. Em cinco horas todos foram vendidos. O autor participa do nerdcast (um programa gravado diretamente na internet) e falou sobre a obra. Os ouvintes se interessaram e adquiriram. Devido à alta procura, o próprio autor desembolsou uma quantia para editar novos exemplares. E assim foi crescendo, e vendendo, até que chamou a atenção de uma grande editora, a Record. Agora ele figura na lista dos livros mais vendidos no Brasil. Uma vitória aos nerds e principalmente à literatura fantástica nacional.

Com o advento dos E-Books, apesar de toda a discussão de que se os livros impressos deixarão de existir, tem seu ponto favorável. O autor, que geralmente fica com 10% do valor de capa, poderá ficar com a maior fatia da venda. Ponto positivo. Há também os booktrailers, vídeos na internet usados para mostrar a obra. Mais um ponto.

E o preconceito, este ser terrível deve ser rechaçado. Primeiramente, as editoras, ou pelo menos a grande maioria delas. Estas partem do princípio de que é mais lucrável traduzir livros que são best-sellers. Há certa garantia de que haverá retorno financeiro. E ainda investem em marketing para divulgá-los, quando deveria ser o contrário: investir e vender autores de sua própria nação. Não depreciando as obras internacionais, porque se o livro é bom, com um bom enredo, não importa a nacionalidade. Por isso mesmo devemos voltar nossos olhos para cá: temos coisas boas para contar, então por que olhar pra fora?

Ainda sobre as editoras, elas temem utilizar o rótulo ficção científica, pois acreditam que denigra a imagem do livro. Acham que rotulá-los as pessoas não comprarão por se tratar de coisa infantil, ou leitura de baixo nível, ou até mesmo coisa de nerd. Balela.

O mesmo ocorre com a maioria dos leitores. Parece que o autor consagrado lá fora chama mais a atenção. “Fulano vendeu mais de um milhão de livros em tal país”. “Beltrano foi traduzido para dezenas de países”. E para ler nossos escritores nem precisamos de tradução. E as vendas? É relativo. Não é porque alguém vendeu milhares de cópias significa que ele é bom. Mais uma vez, pode ser uma questão de marketing, de como a obra foi divulgada.

A dúvida do leitor muitas vezes surge do fato de não saber que existem autores nacionais que escrevem sobre fantasia. Somente o público interessado é que sabe da existência. O grande público precisa ser avisado, urgentemente. A esperança existe já que há vários desbravadores e pessoas interessadas.

Portanto, devemos dar chance àqueles a quem podemos ajudar facilmente. É só olharmos para o lado e veremos que temos as ferramentas de contar uma boa história fantástica: folclore, cultura, até mesmo o cotidiano. Devemos saudar os autores em evidência e trazer ao sol os desconhecidos. Basta nos juntarmos a eles nessa viagem à imaginação, pois temos potencial, independentemente de onde nascemos e vivemos.

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